quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Texto para equipe: The Itinga's boys 1ª série

Texto I
Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.

Texto II
«Porém já cinco Sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca d' outrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando,
Quando ũa noute, estando descuidados
Na cortadora proa vigiando,
Ũa nuvem que os ares escurece,
Sobre nossas cabeças aparece.

«Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo, o negro mar de longe brada,
Como se desse em vão nalgum rochedo.
– «Ó Potestade (disse) sublimada:
Que ameaço divino ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?»

«Não acabava, quando ũa figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.

«Tão grande era de membros, que bem posso
Certificar-te que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo.
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo.
Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!

«E disse: – «Ó gente ousada, mais que quantas
No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os vedados términos quebrantas
E navegar meus longos mares ousas,
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
Nunca arados d' estranho ou próprio lenho;
[...]
«Aqui espero tomar, se não me engano,
De quem me descobriu suma vingança;
E não se acabará só nisto o dano
De vossa pertinace confiança:
Antes, em vossas naus vereis, cada ano,
Se é verdade o que meu juízo alcança,
Naufrágios, perdições de toda sorte,
Que o menor mal de todos seja a morte!

1. Na segunda estrofe do texto I, o eu lírico afirma não temer os perigos do mar. No entanto, mostra-se completamente inseguro em outros assuntos. De acordo com a 1ª e a 2ª estrofes do poema, interprete:
a) Qual a causa da insegurança do eu lírico?
b) Que desafio o eu lírico faz ao Amor?
c) Com base no 4º verso da 1ª estrofe, explique por que o eu lírico julga que será o vencedor desse desafio.

2. Na 3ª e na 4ª estrofes, o eu lírico constrói um raciocínio lógico a partir de uma premissa: não pode haver desgosto onde falta esperança. Interprete: no caso do eu lírico, essa premissa se mostra verdadeira? Justifique sua resposta com elementos do texto.
3. Observe e compare o tipo de verso, o número de versos por estrofe e as rimas dos dois textos.
a) Que tipo de verso foi empregado?
b) Como estão organizadas as estrofes do soneto (texto I)?
c) No soneto, as rimas apresentam a seguinte disposição: ABBA, ABBA, CDE, CDE. Utilizando letras, indique a disposição das rimas do texto II.

4. No texto II, saindo das profundezas do mar, o gigante Adamastor surge inesperadamente diante dos portugueses. Camões criou a figura do monstro para representar o cabo das Tormentas, até então o ponto geográfico mais distante conhecido dos navegantes.
a) O que sentiram os portugueses diante do gigante Adamastor? Que fato, da 4ª estrofe, comprova sua resposta?
b) Reconheça, na 3ª estrofe do texto II, as características do gigante responsáveis pelo que os portugueses sentiram.

5. Releia a 5ª estrofe do texto II. Nela, o gigante compara os portugueses a outros povos, que também se lançaram ao mar.
a) Quem o gigante destaca nessa comparação? Por quê?
b) Relacione essa comparação ao momento histórico e ao espírito nacionalista vivido pelos portugueses no século XVI. Qual é a verdadeira intenção do autor ao criar esse obstáculo para a viagem dos portugueses ao Oriente?

6. Os navegantes do século XV acreditavam em lendas antigas, provenientes da Idade Média. Segundo algumas delas, além do cabo das Tormentas havia fenômenos estranhos, como as águas do mar ferverem e rochas magnéticas atraírem os barcos, que se arrebentavam nas pedras.
Releia a última estrofe do texto II.
a) Que previsões tem o gigante para a ousadia dos portugueses?
b) Em qual dessas lendas Camões se baseou para criar a figura do gigante Adamastor?

Extraído de:
CEREJA, William Roberto. Português: Linguagens: volume 1: ensino médio. 5 ed. São Paulo: Atual, 2005.

Texto para equipe: Dom Quixotes 1ª série

Leia a seguir um fragmento do Auto da Barca do inferno e responda às questões propostas:

DIABO
Pois entrai! Eu tangerei
e faremos um serão.
Essa dama é ela vossa?

FRADE
Por minha la tenho eu,
e sempre a tive de meu,

DIABO
Fezestes bem, que é fermosa!
E não vos punham lá grosa
no vosso convento santo?

FRADE
E eles fazem outro tanto!

DIABO
Que cousa tão preciosa...
Entrai, padre reverendo!

FRADE
Para onde levais gente?

DIABO
Pera aquele fogo ardente
que nom temestes vivendo.

FRADE
Juro a Deus que nom t'entendo!
E este hábito no me val?

DIABO
Gentil padre mundanal,
a Berzebu vos encomendo!

FRADE
Corpo de Deus consagrado!
Pela fé de Jesu Cristo,
que eu nom posso entender isto!
Eu hei-de ser condenado?!...
Um padre tão namorado
e tanto dado à virtude?
Assi Deus me dê saúde,
que eu estou maravilhado!

DIABO
Não curês de mais detença.
Embarcai e partiremos:
tomareis um par de ramos.

FRADE
Nom ficou isso n'avença.

DIABO
Pois dada está já a sentença!
[...]

1. O diabo, ao receber o frade, estranha a pessoa que está em sua companhia.
Deduza: qual é a causa desse estranhamento?

2. O diálogo que ocorre entre as duas personagens revela não apenas a condição moral do frade, mas também a de outros membros da Igreja. Qual é essa condição?

3. Para livrar-se do inferno, o frade apresenta alguns argumentos ao diabo.

a) Identifique dois desses argumentos
b) Pelas respostas do diabo, deduza: o frade deverá ir para a barca do inferno ou para a barca do céu? Por quê?

4. O julgamento a que são submetidos os mortos que se dirigem à barca do inferno ou à barca do céu é na verdade um julgamento de toda a sociedade. No que se refere ao julgamento do frade, levante hipóteses: a intenção do autor é criticar a Igreja como instituição ou os homens? Justifique sua resposta.

5. Na época de Gil Vicente, o teatro era escrito em versos. Observe o fragmento lido. Que tipo de verso foi utilizado?

Extraído de:
CEREJA, William Roberto. Português: Linguagens: volume 1: ensino médio. 5 ed. São Paulo: Atual, 2005.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Texto para equipe: Balacubaco 2ª série

As pombas
Raimundo Correia

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...

1. O soneto está organizado em duas partes. Nas duas quadras, o eu lírico descreve o revoar das pombas; nos tercetos é estabelecida uma comparação.
a) A que é comparado o revoar das pombas?
b) Qual é a diferença essencial, segundo o texto, entre os elementos comparados?

2. De acordo com os termos dessa comparação, identifique a que correspondem, no plano da vida:
a) a madrugada e a tarde;
b) a nortada, que as pombas encontram, à tarde, fora dos pombais.

3. Releia a última estrofe do soneto. Que visão sobre a vida e sobre a condição humana o eu lírico expressa nessa estrofe e no poema como um todo?

4. Destaque do soneto três características que comprovem a filiação do texto ao Parnasianismo.

Extraído de:
CEREJA, William Roberto. Português: Linguagens: volume 2: ensino médio. 5 ed. São Paulo: Atual, 2005.

Texto para equipe: PLBTJ 2ª série

CORRESPONDÊNCIAS
Charles Baudelaire

A natureza é um templo onde vivos pilares
Deixam filtrar não raro insólitos enredos;
O homem o cruza em meio a um bosque de segredos
Que ali o espreitam com seus olhos familiares.
Como ecos longos que à distância se matizam
Numa vertiginosa e lúgubre unidade,
Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,
Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam.
Há aromas frescos como a carne dos infantes,
Doces como o oboé, verdes como a campina,
E outros, já dissolutos, ricos e triunfantes,
Com a fluidez daquilo que jamais termina,
Como o almíscar, o incenso e as resinas do Oriente,
Que a glória exaltam dos sentidos e da mente.




VIOLÕES QUE CHORAM...
Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.
Noites de além, remotas, que eu recordo,
Noites da solidão, noites remotas
Que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas.
Sutis palpitações à luz da lua,
Anseio dos momentos mais saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.
Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.
Harmonias que pungem, que laceram,
Dedos nervosos e ágeis que percorrem
Cordas e um mundo de dolências geram
Gemidos, prantos, que no espaço morrem...
E sons soturnos, suspiradas mágoas,
Mágoas amargas e melancolias,
No sussurro monótono das águas,
Noturnamente, entre ramagens frias.
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Tudo nas cordas dos violões ecoa
E vibra e se contorce no ar, convulso...
Tudo na noite, tudo clama e voa
Sob a febril agitação de um pulso.
Que esses violões nevoentos e tristonhos
São ilhas de degredo atroz, funéreo,
Para onde vão, fatigadas do sonho,
Almas que se abismaram no mistério.
Sons perdidos, nostálgicos, secretos,
Finas, diluídas, vaporosas brumas,
Longo desolamento dos inquietos
Navios a vagar à flor de espumas.
Oh! languidez, languidez infinita,
Nebulosas de sons e de queixumes,
Vibrado coração de ânsia esquisita
E de gritos felinos de ciúmes!
Que encantos acres nos vadios rotos
Quando em toscos violões, por lentas horas
Vibram, com a graça virgem dos garotos,
Um concerto de lágrimas sonoras!
Quando uma voz, em trêmulos, incerta,
Palpitando no espaço, ondula, ondeia,
E o canto sobe para a flor deserta,
Soturna e singular da lua cheia.
Quando as estrelas mágicas florescem,
E no silêncio astral da Imensidade
Por lagos encantados adormecem
As pálidas ninféias da Saudade!
Como me embala toda essa pungência,
Essas lacerações como me embalam,
Como abrem asas brancas de clemência
As harmonias dos violões que falam!
Que graça ideal, amargamente triste,
Nos lânguidos bordões plangendo passa.
Quanta melancolia de anjo existe
Nas visões melodiosas dessa graça...
Que céu, que inferno, que profundo inferno,
Que ouros, que azuis, que lágrimas, que risos,
Quanto magoado sentimento eterno
Nesses ritmos trêmulos e indecisos...
Que anelos sexuais de monjas belas
Nas ciliciadas carnes tentadoras,
Vagando no recôndito das celas,
Por entre as ânsias dilaceradoras...
Quanta plebéia castidade obscura
Vegetando e morrendo sobre a lama,
Proliferando sobre a lama impura,
Como em perpétuos turbilhões de chama,
Que procissão sinistra de caveiras,
De espetros, pelas sombras mortas, mudas...
Que montanhas de dor, que cordilheiras
De agonias aspérrimas e agudas.
Véus neblinosos, longos, véus de viúvas
Enclausuradas nos ferais desterros,
Errando aos sóis, aos vendavais e às chuvas,
Sob abóbadas lúgubres de enterros:
Velhinhas quedas e velhinhos quedos,
Cegas, cegos, velhinhas e velhinhos,
Sepulcros vivos de senis segredos,
Eternamente a caminhar sozinhos;
E na expressão de quem se vai sorrindo,
Com as mãos bem juntas e com os pés bem juntos
E um lenço preto o queixo comprimindo,
Passam todos os lívidos defuntos...
E como que há histéricos espasmos
Na mão que esses violões agita, largos...
E o som sombrio é feito de sarcasmos
E de sonambulismos e letargos.
Fantasmas de galés de anos profundos
Na prisão celular atormentados,
Sentindo nos violões os velhos mundos
Da lembrança fiel de áureos passados;
Meigos perfis de tísicos dolentes
Que eu vi dentre os violões errar gemendo,
Prostituídos de outrora, nas serpentes
Dos vícios infernais desfalecendo;
Tipos intonsos, esgrouviados, tortos,
Das luas tardas sob o beijo níveo,
Para os enterros dos seus sonhos mortos
Nas queixas dos violões buscando alívio;
Corpos frágeis, quebrados, doloridos,
Frouxos, dormentes, adormidos, langues,
Na degenerescência dos vencidos
De toda a geração, todos os sangues;
Marinheiros que o mar tornou mais fortes,
Como que feitos de um poder extremo
Para vencer a convulsão das mortes,
Dos temporais o temporal supremo;
Veteranos de todas as campanhas,
Enrugados por fundas cicatrizes,
Procuram nos violões horas estranhas,
Vagos aromas, cândidos, felizes.
Ébrios antigos, vagabundos velhos,
Torvos despojos da miséria humana,
Têm nos violões secretos Evangelhos,
Toda a Bíblia fatal da dor insana.
Enxovalhados, tábidos palhaços
De carapuças, máscaras e gestos
Lentos e lassos, lúbricos, devassos,
Lembrando a florescência dos incestos;
Todas as ironias suspirantes
Que ondulam no ridículo das vidas,
Caricaturas tétricas e errantes
Dos malditos, dos réus, dos suicidas;
Toda essa labiríntica nevrose
Das virgens nos românticos enleios,
Os ocasos do Amor, toda a clorose
Que ocultamente lhes lacera os seios;
Toda a mórbida música plebéia
De requebros de fauno e ondas lascivas;
A langue, mole e morna melopéia
Das valsas alanceadas, convulsivas;
Tudo isso, num grotesco desconforme,
Em ais de dor, em contorções de açoites,
Revive nos violões, acorda e dorme
Através do luar das meias-noites!

1. Embora Baudelaire seja precursor da poesia simbolista, notamos várias semelhanças entre seu poema e o do simbolista Cruz e Sousa. Observe a linguagem dos dois poemas. A linguagem simbolista caracteriza-se por ser vaga, fluida, imprecisa.
a) Destaque dos dois poemas exemplos de algo indefinido, vago.
b) O emprego de substantivos abstratos e de adjetivos também contribui para reforçar a idéia de fluidez nos textos. Identifique nos dois poemas o uso de recursos desses tipos.

2. No Realismo, a adjetivação cumpre o papel de compor um painel objetivo da realidade. Observe os adjetivos empregados nos poemas de Baudelaire e Cruz e Sousa. Eles contribuem para compor um painel subjetivo ou objetivo da realidade?

3. Em vez de nomear ou explicar objetivamente, a linguagem simbolista procura sugerir. Com relação ao poema “Violões que choram...”:

a) O que sugere a aliteração do fonema /v/ da 7ª estrofe?
b) Com base na 1ª e na 5ª estrofes e no título do poema, indique os sentimentos ou estados de alma que, na visão do eu lírico, os sons do violão sugerem.
c) Na atribuição de características como “dormentes”, “chorosos” e “tristonhos” aos violões, que figura de linguagem se verifica?

4. Para os simbolistas, uma das formas de expressar as sensações interiores por meio da linguagem verbal é pela aproximação ou cruzamento de campos sensoriais diferentes. Esse procedimento, a que se dá o nome de sinestesia, foi inspirado justamente no poema “Correspondências”, de Baudelaire.
a) Identifique no poema de Baudelaire o verso que se refere à fusão de campos sensoriais diferentes.
b) Releia as três estrofes iniciais do poema de Cruz e Sousa. Que campos sensoriais são aproximados nessas estrofes?
c) Identifique na sétima estrofe um emprego de sinestesia.

5. O Parnasianismo e o Simbolismo nasceram juntos na França, com a publicação da revista Parnasse Contemporain. Embora apresentem propostas artísticas diferentes, esses dois movimentos tem em comum a preocupação com a linguagem artística. Por isso, é comum entre simbolistas o exercício do princípio da “arte pela arte” ou “arte sobre a arte”.
a) Na 1ª estrofe de “Correspondências”, Baudelaire faz referência a “palavras confusas” e a “florestas de símbolos”. A que tipo de arte ele se refere nesses versos?
b) Em “Violões que choram...” manifesta-se o princípio da “arte pela arte”? por quê?

Extraído de:
CEREJA, William Roberto. Português: Linguagens: volume 2: ensino médio. 5 ed. São Paulo: Atual, 2005.

Texto para equipe: Condoreiros 2ª série

A um poeta
Olavo Bilac

Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego

Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

1. Comente os aspectos formais do poema (estrofação, esquema de rima, métrica).

2. Qual o significado de claustro?

3. Sabemos que beneditino é o monge da ordem de São Bento. No entanto, Olavo Bilac não se refere a um monge no texto; a palavra beneditino foi empregado em sentido figurado. No contexto acima, qual o significado de beneditino?

4. O poema está centrado em que pessoa do discurso? Justifique com indicadores gramaticais. Esses indicadores estão presentes em todas as estofes?

5. Num poema, podemos ter o eu-poético, o dono da voz, e um “tu”, suposto interlocutor. Caracterize-os no poema de Bilac.

6. Qual é a mensagem subjetiva do autor para seus leitores, ou seja, qual seria o discurso de Olavo Bilac a seus leitores? Comente-o.

7. Polissíndeto é uma figura de construção que se caracteriza pela repetição de conjunções (ou síndetos).
a) Destaque um verso que apresente polissíndeto.
b) O uso dessa figura produz que efeito no texto?

8. Destaque um verso em que se defende um ideal clássico de arte.

Extraído de:
NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume 2. São Paulo: Scipione, 2005.

Texto para equipe: Vibes 2ª série

Via Láctea
Olavo Bilac

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

1. O poema apresenta estrutura de diálogo. Quem são os interlocutores? Que tipo de postura cada um evidencia?

2. O poeta trabalhou tanto o discurso direto como o discurso indireto. Dê um exemplo de cada e identifique o dono da fala reproduzida.


3. O interlocutor é um adepto do racionalismo. Aponte, na seleção vocabular da fala do interlocutor, indicadores dessa postura.

4. Enjambement ou encadeamento é um recurso muito utilizado na construção do texto parnasiano (consiste em por no verso seguinte uma ou mais palavras que completem o sentido do verso anterior). Aponte uma passagem em que Bilac faz uso desse recurso.

5. Considera-se rima pobre aquela que é feita entre palavras da mesma categoria gramatical, notadamente as que apresentam os mesmos sufixos ou terminações verbais. Rima rica é a rima entre palavras de categorias gramaticais diferentes, sem auxílio de sufixos. Quando a rima resulta de uma combinação muito especial, diz-se que é rica e rara. Aponte um exemplo de rima rica e rara no soneto de Bilac.

6. Embora os poetas parnasianos sejam considerados “impassíveis”, objetivos, declaradamente anti-românticos, observam-se na poética de Olavo Bilac certos traços do Romantismo. O próprio poeta afirmou: “Aos chamados poetas parnasianos também se deu outro nome: ‘impassíveis’. Quem pode conceber um poeta que não seja suscetível de padecimento? Ninguém e nada é impassível: nem sei se as pedras podem viver sem alma. Uma estátua, quando é verdadeiramente bela, tem sangue e nervos”.
Comprove essas afirmações a partir de elementos presentes no soneto “Ora (direis) ouvir estrelas”.

Extraído de:
NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume 2. São Paulo: Scipione, 2005.

Texto para equipe: Miseráveis 2ª série

Antífona
Cruz e Souza

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras

Formas do Amor, constelarmante puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...

Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.

Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...

Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...

1. Transcreva passagens do texto que exemplifiquem a fixação do poeta pelo branco.
2. Há referência, embora leve, à questão sexual. Transcreva a passagem em que ela se encontra e comente a visão do poeta.
3. “...Mistério... mistérios...” (quinta estrofe); “...Verso...versos...” (sexta estrofe). Comente o uso das maiúsculas.
4. Sinestesia é uma figura muito comum na poética simbolista. Sinestesia, literalmente, significa “mistura de sensações”; consiste numa relação subjetiva que apela a mais de um dos nossos sentidos, como: “Tem cheiro a luz, a manhã nasce... / Oh sonora audição colorida do aroma!” (Alphonsus de Guimaraens), em que o poeta apela à audição, à visão e ao olfato. Ou: “Corre por toda ela um suor de pedrarias, / um murmúrio de cores” (Eugenio de Castro), em que temos a fusão das sensações tátil, auditiva e visual.
Aponte, no poema, versos em que temos sinestesia.
5. Aliteração é uma figura que consiste na repetição de fonemas para sugerir um som. Difere da onomatopéia na medida em que esta imita o som; a aliteração é sugestão: “Toda gente homenageia Januária na janela / até o mar faz maré cheia para chegar mais perto dela.” (Chico Buarque).
Transcreva uma passagem caracterizada pela aliteração.
6. Quanto à forma:
a) Qual a métrica empregada por Cruz e Sousa? Escolha um verso e faça a escansão ) divisão das sílabas poéticas).
b) Qual o esquema de rima?
7. Tomando por base a última estrofe, destaque alguns dos temas recorrentes na obra de Cruz e Sousa

Extraído de:
NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume 2. São Paulo: Scipione, 2005.

Quem sou eu

Minha foto
Formada no curso técnico de Auxiliar de Escritório no ano de 1996, no Centro Educacional Deocleciano Barbosa de Castro, graduada no curso de Licenciatura em Letras com habilitação para o ensino de Língua Inglesa, Língua Portuguesa e suas Literaturas, na Universidade do Estado da Bahia - UNEB/Campus IV no ano de 2004, pós graduanda em Metodologias de Ensino da Língua Portuguesa, pela Universidade Gama Filho. Trabalho como professora há 10 anos, tendo iniciado minha carreira na Prefeitura Municipal de Quixabeira, como professora de Inglês no Ensino Fundamental. Nos anos de 2005 e 2006 trabalhei como professora substituta na Escola Agrotécnica Federal de Senhor do Bonfim, com a disciplina Inglês para o Ensino Médio. Em 2007, tendo sido aprovada no concurso para professores do Estado da Bahia, assumi a cadeira de professora de Língua Inglesa no Colégio Estadual Roberto Santos, onde hoje atuo também como vice-diretora. Assumi a disciplina Literatura no Colégio Presbiteriano Augusto Galvão, em fevereiro de 2009, e pretendo abrir as janelas desta incrível arte a todos que por ela se interessem.