segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A morte e a morte de Quincas Berro d'Água

Jorge Amado é um dos grandes escritores da literatura brasileira. Compondo o quadro dos escritores pertencentes a segunda geração de modernistas, também conhecida como romance de 30 ou romance regionalista, caracterizou de forma divertida e precisa o baiano de Ilhéus e Salvador.
Com romances traduzidos em mais de 40 idiomas, Jorge Amado cativou um público fiel e teve suas obras também adaptadas para o cinema e para a TV.
De todas as suas obras, A morte e a morte de Quincas Berro d’água se destaca como uma novela excepcional, nas palavras do colega Vinicius de Moraes "a melhor novela da literatura brasileira". A história se passa em Salvador, e gira em torno de Joaquim Soares da Cunha, o Quincas Berro d’Água o defunto que não se pode precisar quando efetivamente morreu, ou podemos dizer que, escolheu a hora da própria morte.
As várias mortes do personagem demonstram uma narrativa de realismo preciso e em um trabalho psicológico, mostra como um homem pode morrer estando ainda vivo. E a dúvida sobre a morte é apresentada desde o inicio da narrativa: "Até hoje permanece certa confusão em torno da morte de Quincas Berro D'água. Dúvidas por explicar, detalhes absurdos, contradições no depoimento das testemunhas, lacunas diversas. Não há clareza sobre hora, local e frase derradeira. A família, apoiada por vizinhos e conhecidos, mantém-se intransigente na versão da tranqüila morte matinal, sem testemunhas, sem aparato, sem frase."
Como nossa proposta é discutir as impressões causadas no leitor, confesso ter relutado muito em fazer a leitura deste livro. Um professor de Teoria da Literatura, quando eu estava fazendo a graduação, falava de forma exaustiva deste livro, mas de uma forma chata que não me motivou a lê-lo. Anos mais tarde, conversando com uma amiga – e também professora de Literatura – ouvi dela um relato empolgado do livro, despertando minha curiosidade. Me diverti muito com essa leitura, por isso a recomendei. E vocês, o que acharam?

O retrato de Dorian Gray


Oscar Wilde foi uma personalidade e tanto. O típico dândi, chamando atenção por onde passasse com seu girassol na lapela, teve uma vida repleta de escândalos sendo preso por 2 anos por "cometer atos imorais com diversos rapazes" – de acordo com a sentença do juiz.
Crítico literário, viajou o mundo com suas palestras e sua literatura está entre os clássicos da literatura universal. Escreveu peças de grande sucesso, contos e novelas. Seu único romance, O Retrato de Dorian Gray, repleto de diálogos riquíssimos, é uma obra-prima que fala de arte, beleza e vaidade foi considerado, em seu tempo, imoral. Para Wilde "não existe livro moral ou amoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo." E, com todas as suas excentricidades, Wilde foi um bom escritor.
A primeira vez que li O Retrato de Dorian Gray fiquei fascinada. Texto envolvente repleto de aforismos, desperta no leitor a vontade de sempre retornar a obra. Um bom exemplo destes aforismos é quando um dos personagens afirma “Segundo alguns, as mulheres amam com os ouvidos, exatamente como os homens amam com os olhos; se é que os homens podem amar”, ou ainda "Não se pode haver amizade entre homem e mulher. Pode haver paixão, hostilidade, adoração, amor, mas não amizade". Ler esta e outras obras de Wilde, é sempre um convite à reflexão. Comente alguns dos aforismos encontrados no romance!

A cidade do sol


O autor afegão Khaled Housseini teve sua estréia na literatura mundial com O Caçador de Pipas, um best-seller. Sendo doutor em medicina, Housseini ainda exerce a sua profissão acrescentado a esta a atividade de romancista. O autor poderia ser considerado mais um destes escritores que tem alguns livros de grande sucesso e depois desaparecem, no entanto, seu segundo livro, A cidade do sol, demonstra uma veia literária profunda, com duas histórias distintas que se encontram.
Conheci a obra de Housseini porque era impossível não conhecê-la: na lista dos mais vendidos em diversos países, com um grande alvoroço sobre a história de O caçador de pipas, e com a indicação de alguns amigos – essa é sem dúvida uma das melhores formas de despertar o interesse por algum livro: alguém de quem você gosta e em quem confia indicá-lo – entreguei-me a leitura. Não senti tanta emoção com este, talvez por se tratar de uma amizade que envolve muito mais o mundo masculino, mas ao ler A Cidade do Sol, emocionei-me do início ao fim! Devorei o livro em dois dias! Sofrendo com as dores de Mariam e Laila.
Em uma narrativa bem escrita, o autor nos transporta para o mundo desumano, assemelha os sofrimentos de diferentes pessoas, revela o quanto somos parte desse todo. Uma das frases mais marcantes no livro, para mim é "De todas as dificuldades que uma pessoa tem de enfrentar, a mais sofrida é, sem dúvida, o simples ato de esperar”.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Texto para equipe: Fakename 1ª série

Os Lusíadas - Camões

Proposição

As armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana
E em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

As navegações grandes que fizeram;
Cale−se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

1. Comente os aspectos formais das três estrofes.
2. Para os poetas clássicos, a poesia era fruto da combinação de duas virtudes. Em que verso isso está explicitado?
3. O crítico português Antonio José Saraiva afirma que “as epopéias são narrativas de fundo histórico em que se registram poeticamente as tradições e os ideais de um grupo étnico sob a forma de aventuras de um ou alguns heróis”.
Na Proposição, Camões evidencia o “grupo étnico” e as “aventuras” que serão cantados. Aponte versos em que ocorre isso.
4. O professor Hernani Cidade, na abertura de seu livro A literatura portuguesa e a expansão ultramarina, narra o seguinte episódio:
“Quando os nautas do Gama desembarcaram em Calecute, foi um deles interrogado sobre os motivos da viagem, e consta que respondeu:
- Viemos buscar cristãos e especiarias.
Dava o marinheiro, na singeleza da resposta, a completa finalidade dos objetivos: a mistura, bem humana, da ganância comercial com o proselitismo religioso”.
Destaque versos que sintetizam essa duplicidade que caracterizou os séculos XV e XVI na Península Ibérica.
5. Em Os Lusíadas percebemos uma contradição: os portugueses navegavam para dilatar a Fé Cristã, mas o destino dos navegadores estava nas mãos dos deuses pagãos. Explique.

Extraído de:
NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume 1. São Paulo: Scipione, 2005.

Texto para equipe: Fire girls 1ª série

Camões
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

1. Treinando o ouvido: releia os versos do primeiro terceto e responda: quais são as sílabas que recebem o acento do verso?
2. O poeta repete várias vezes a forma verbal é, coma função de ligar um predicativo a um sujeito. Qual o sujeito desses versos?
3. Qual a característica maior de todos os predicativos que aparecem no texto?
4. Releia atentamente o poema e responda: qual seria a maior contradição, o maior paradoxo do poema?
5. Leia atentamente a explicação abaixo:
Platão concebia dois mundos: o mundo sensível, em que habitamos, e o mundo inteligível, das divinas essências (Deus, o Belo, o Bom, a Sabedoria, o Amor, a Justiça, etc.). No mundo sensível, a realidade concreta é simples sombra ou reflexo dessas essências. As almas, que são imortais, habitam o mundo inteligível. Quando descem para o mundo sensível, conservam uma recordação de sua morada divina, que podem avivar por meio da reminiscência. Nossa constante busca do ideal seria, portanto, uma tentativa de ascender do mundo sensível (da realidade concreta) para o mundo inteligível (da essência, da verdade universal). No mundo sensível temos, por exemplo, amores vivenciados, que são cópias imperfeitas, deformadas, uma vez que “o mundo material ou de nossa experiência sensível é mutável e contraditório e, por isso, dele só nos chegam as aparências das coisas e sobre ele só podemos ter opiniões contrárias e contraditórias” (Marilena Chauí); no mundo inteligível, temo o Amor (a maiúscula indica sempre a essência, a ideia, o Ser perfeito, imutável, universal, eterno, imperecível).
Como se manifesta o platonismo no texto?

Extraído de:
NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume 1. São Paulo: Scipione, 2005.

Texto para equipe: Heróis de Guerra 1ª série

Todo o Mundo e Ninguém
Gil Vicente

Ninguém: Que andas tu aí buscando?
Todo o Mundo: Mil cousas ando a buscar:
delas não posso achar,
porém ando porfiando
por quão bom é porfiar.

Ninguém: Como hás nome, cavaleiro?

Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo
e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro
e sempre nisto me fundo.

Ninguém: Eu hei nome Ninguém,
e busco a consciência.

Belzebu: Esta é boa experiência:
Dinato, escreve isto bem.

Dinato: Que escreverei, companheiro?

Belzebu: Que ninguém busca consciência.
e todo o mundo dinheiro.

Ninguém: E agora que buscas lá?

Todo o Mundo: Busco honra muito grande.

Ninguém: E eu virtude, que Deus mande
que tope com ela já.

Belzebu: Outra adição nos acude:
escreve logo aí, a fundo,
que busca honra todo o mundo
e ninguém busca virtude.

Ninguém: Buscas outro mor bem qu'esse?

Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse
tudo quanto eu fizesse.

Ninguém: E eu quem me repreendesse
em cada cousa que errasse.

Belzebu: Escreve mais.

Dinato: Que tens sabido?

Belzebu: Que quer em extremo grado
todo o mundo ser louvado,
e ninguém ser repreendido.
Ninguém: Buscas mais, amigo meu?

Todo o Mundo: Busco a vida a quem ma dê.

Ninguém: A vida não sei que é,
a morte conheço eu.

Belzebu: Escreve lá outra sorte.

Dinato: Que sorte?

Belzebu: Muito garrida:
Todo o mundo busca a vida
e ninguém conhece a morte.

Todo o Mundo: E mais queria o paraíso,
sem mo ninguém estorvar.

Ninguém: E eu ponho-me a pagar
quanto devo para isso.

Belzebu: Escreve com muito aviso.

Dinato: Que escreverei?

Belzebu: Escreve
que todo o mundo quer paraíso
e ninguém paga o que deve.

Todo o Mundo: Folgo muito d'enganar,
e mentir nasceu comigo.

Ninguém: Eu sempre verdade digo
sem nunca me desviar.

Belzebu: Ora escreve lá, compadre,
não sejas tu preguiçoso.

Dinato: Quê?

Belzebu: Que todo o mundo é mentiroso,
E ninguém diz a verdade.


1. Comente as figuras de Todo o Mundo e Ninguém, caracterizando-as.
2. Nas falas de Belzebu, os personagens Todo o Mundo e Ninguém, bem como o diálogo travado entre eles, ganham novo significado. Por quê?
3. Qual a postura de Belzebu e de Dinato? São passivos ou ativos? O que pretende Gil Vicente com isso?
4. Destaque dois aspectos formais do texto e comente-os.
5. Você concorda com a fala de Belzebu: “Que Ninguém busca consciência, e Todo o Mundo dinheiro”? Por quê?

Extraído de:
NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume 1. São Paulo: Scipione, 2005.

Texto para equipe: Obcecados por Literatura 1ª série

Leia atentamente os fragmentos abaixo, retirados da Crônica de D. João I. Depois, com o auxílio do vocabulário, responda às questões de interpretação. Observe a sensibilidade do autor, o realismo e o caráter visual dos detalhes descritivos, utilizados como apelo emocional.

O cerco de Lisboa

Andavam os moços de três e de quatro anos pedindo pão pela cidade pelo amor de Deus, como lhes ensinavam suas madres; e muitos não tinham outra cousa que lhes dar senão lágrimas que com eles choravam, que era triste cousa de ver, e se lhes davam tomando pão como noz, haviam-no por grande bem.
Desfalecia o leite àquelas que tinham crianças a seus peitos, por míngua de mantimento; e vendo lazerar seus filhos a que ocorrer não podiam, choravam amiúde sobre eles a morte, antes que os a morte privasse da vida: muitos esguardavam as preces alheias com chorosos olhos, por cumprir o que a piedade manda; e, não tendo de que lhes ocorrer, caíam em dobrada tristeza.
[...]
Ora esguardai, como se fôsseis presentes, uma tal cidade assim desconforta a e sem nenhuma certa fiúza de seu livramento, como viveriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de tais aflições! Ó geração que depois veio, povo bem aventurado, que não soube parte de tantos males nem foi quinhoeiro de tais padecimentos!

1. Para a mentalidade medieval, o centro dos acontecimentos históricos eram os grandes homens – os reis e os nobres. As narrativas de guerra giravam sempre em torno dos cavaleiros, cuja idealização reunia força, integridade de caráter, honra e, sobretudo, heroísmo.
a) Em que esse fragmento se diferencia dessa concepção medieval da História?
b) Com a intenção de sensibilizar o leitor, o cronista descreve o sofrimento dos mais indefesos habitantes da cidade. Quem são eles?

2. Uma das qualidades de Fernão Lopes é a criação de quadros da vida medieval com grande riqueza de detalhes.
a) Em que parágrafo do fragmento da crônica o autor explica sua intenção de descrever os sofrimentos do cerco de Lisboa?
b) A quem se dirige o autor nesse parágrafo?
c) Que verbo desse parágrafo demonstra a consciência do autor acerca da força das imagens com que descreve a cena? Em que modo está esse verbo?
d) Comente o efeito expressivo do uso desse verbo.


AMARAL, Emilia [et al.]. Novas Palavras: português, volume 1: ensino médio. São Paulo: FTD, 2005.

Quem sou eu

Minha foto
Formada no curso técnico de Auxiliar de Escritório no ano de 1996, no Centro Educacional Deocleciano Barbosa de Castro, graduada no curso de Licenciatura em Letras com habilitação para o ensino de Língua Inglesa, Língua Portuguesa e suas Literaturas, na Universidade do Estado da Bahia - UNEB/Campus IV no ano de 2004, pós graduanda em Metodologias de Ensino da Língua Portuguesa, pela Universidade Gama Filho. Trabalho como professora há 10 anos, tendo iniciado minha carreira na Prefeitura Municipal de Quixabeira, como professora de Inglês no Ensino Fundamental. Nos anos de 2005 e 2006 trabalhei como professora substituta na Escola Agrotécnica Federal de Senhor do Bonfim, com a disciplina Inglês para o Ensino Médio. Em 2007, tendo sido aprovada no concurso para professores do Estado da Bahia, assumi a cadeira de professora de Língua Inglesa no Colégio Estadual Roberto Santos, onde hoje atuo também como vice-diretora. Assumi a disciplina Literatura no Colégio Presbiteriano Augusto Galvão, em fevereiro de 2009, e pretendo abrir as janelas desta incrível arte a todos que por ela se interessem.