Texto para: Virna, Airton, Ruty, Álvaro, Lorena, Elaine
A bagaceira
(José Américo de Almeida)
Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos – esqueletos redivivos, com o aspecto terroso e o fedor das covas podres.
Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas.
Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam. Expulsos de seu paraíso por espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrastão dos maus fados.
Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forçado nomandismo.
Adelgaçados na magreira cômica, cresciam, como se o vento os levantasse. E os braços afinados desciam-lhes aos joelhos, de mãos abanando.
Vinham escoteiros. Menos os hidrópicos – de ascite consecutiva à alimentação tóxica – com os fardos das barrigas alarmantes.
Não tinha sexo, nem idade, nem condição nenhuma.
Eram os retirantes. Nada mais.
Meninotas, com as pregas da súbita velhice, careteavam, torcendo as carinhas decrépitas de exvoto. Os vaqueiros másculos, como titãs alquebrados, em petição de miséria. Pequenos fazendeiros, no arremesso igualitário, baralhavam-se nesse anônimo aniquilamento.
Mais mortos do que vivos. Vimos, vivíssimos só no olhar. Pupilas do sol da seca. Uns olhos espasmódicos de pânico, como se estivessem assombrados de si próprios. Agônica concentração de vitalidade faiscante.
Fariscavam o cheiro enjoativo do melado que lhes exarcebava os estômagos jejuns. E, em vez de comerem, eram comidos pela própria fome numa autofagia erosiva.
Último pau-de-arara
Venâncio, Corumbá & J.Guimarães
A vida aqui só é ruim
Quando não chove no chão
Mas se chover da de tudo
Fartura tem de montão
Tomara que chova logo
Tomara meu Deus, tomara
Só deixo o meu Cariri
No último pau-de-arara
Enquanto a minha vaquinha
Tiver a pele e o osso
E puder com o chocalho
Pendurado no pescoço
Eu vou ficando por aqui
Que Deus do céu me ajude
Quem sai da terra natal
Em outros cantos não para
Só deixo o meu Cariri
No último pau-de-arara ...
1. Destaque a frase do texto que melhor caracteriza a condição dos retirantes.
2. Explique a aparente contradição da frase “Fugiam do sol e o sol guiava-os”.
3. Transcreva uma passagem em que José Américo de Almeida aborda o problema da velhice precoce.
4. Comente a linguagem usada por José Américo de Almeida. Você diria que ela se enquadra perfeitamente nos padrões do Modernismo?
5. Compare o texto de A bagaceira com a letra de “O último pau-de-arara”, destacando os pontos em comum.
Extraído de:
NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume 3. São Paulo: Scipione, 2005.
1°)Mais mortos do que vivos. Vimos, vivíssimos só no olhar. Pupilas do sol da seca. Uns olhos espasmódicos de pânico, como se estivessem assombrados de si próprios. Agônica concentração de vitalidade faiscante.
ResponderExcluir2°)É que os retiramtes estavam fugindo do sol, da seca, mais era esse mesmo sol que eles viam quando batiam retirada acompanhado assim a eles e de uma certa forma, guiando-os.
3°)Meninotas, com as pregas da súbita velhice, careteavam, torcendo as carinhas decrépitas de exvoto.
5°)Os dois textos falam sobre a seca e o sofrimento que os nordestinos retirantes passam e que sempre batem retirada em busca da vida pois se continiassem nas suas terras iriam morrer. Fala também na fé, pois sabem que esta tudo ruim e que a chuva não vem, mais eles continuam tendo fé e pedindo a Deus que a chuva caia.
Virna, Airton, Ruty, Álvaro, Lorena, Elaine.
4º)Sim, principalmente na segunda fase, em que ocorre uma incessante busca do homem brasileiro pela identidade cultural própria, destacando o regionalismo nordestino,a linguagem e outros elementos como:a seca,o envolvimento do meio social e natural.
ResponderExcluira Ingrid esta participando de nosso grupo, ela é a novata. bjs!
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