quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Texto para equipe: Condoreiros 2ª série

A um poeta
Olavo Bilac

Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego

Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

1. Comente os aspectos formais do poema (estrofação, esquema de rima, métrica).

2. Qual o significado de claustro?

3. Sabemos que beneditino é o monge da ordem de São Bento. No entanto, Olavo Bilac não se refere a um monge no texto; a palavra beneditino foi empregado em sentido figurado. No contexto acima, qual o significado de beneditino?

4. O poema está centrado em que pessoa do discurso? Justifique com indicadores gramaticais. Esses indicadores estão presentes em todas as estofes?

5. Num poema, podemos ter o eu-poético, o dono da voz, e um “tu”, suposto interlocutor. Caracterize-os no poema de Bilac.

6. Qual é a mensagem subjetiva do autor para seus leitores, ou seja, qual seria o discurso de Olavo Bilac a seus leitores? Comente-o.

7. Polissíndeto é uma figura de construção que se caracteriza pela repetição de conjunções (ou síndetos).
a) Destaque um verso que apresente polissíndeto.
b) O uso dessa figura produz que efeito no texto?

8. Destaque um verso em que se defende um ideal clássico de arte.

Extraído de:
NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume 2. São Paulo: Scipione, 2005.

Texto para equipe: Vibes 2ª série

Via Láctea
Olavo Bilac

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

1. O poema apresenta estrutura de diálogo. Quem são os interlocutores? Que tipo de postura cada um evidencia?

2. O poeta trabalhou tanto o discurso direto como o discurso indireto. Dê um exemplo de cada e identifique o dono da fala reproduzida.


3. O interlocutor é um adepto do racionalismo. Aponte, na seleção vocabular da fala do interlocutor, indicadores dessa postura.

4. Enjambement ou encadeamento é um recurso muito utilizado na construção do texto parnasiano (consiste em por no verso seguinte uma ou mais palavras que completem o sentido do verso anterior). Aponte uma passagem em que Bilac faz uso desse recurso.

5. Considera-se rima pobre aquela que é feita entre palavras da mesma categoria gramatical, notadamente as que apresentam os mesmos sufixos ou terminações verbais. Rima rica é a rima entre palavras de categorias gramaticais diferentes, sem auxílio de sufixos. Quando a rima resulta de uma combinação muito especial, diz-se que é rica e rara. Aponte um exemplo de rima rica e rara no soneto de Bilac.

6. Embora os poetas parnasianos sejam considerados “impassíveis”, objetivos, declaradamente anti-românticos, observam-se na poética de Olavo Bilac certos traços do Romantismo. O próprio poeta afirmou: “Aos chamados poetas parnasianos também se deu outro nome: ‘impassíveis’. Quem pode conceber um poeta que não seja suscetível de padecimento? Ninguém e nada é impassível: nem sei se as pedras podem viver sem alma. Uma estátua, quando é verdadeiramente bela, tem sangue e nervos”.
Comprove essas afirmações a partir de elementos presentes no soneto “Ora (direis) ouvir estrelas”.

Extraído de:
NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume 2. São Paulo: Scipione, 2005.

Texto para equipe: Miseráveis 2ª série

Antífona
Cruz e Souza

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras

Formas do Amor, constelarmante puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...

Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.

Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...

Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...

1. Transcreva passagens do texto que exemplifiquem a fixação do poeta pelo branco.
2. Há referência, embora leve, à questão sexual. Transcreva a passagem em que ela se encontra e comente a visão do poeta.
3. “...Mistério... mistérios...” (quinta estrofe); “...Verso...versos...” (sexta estrofe). Comente o uso das maiúsculas.
4. Sinestesia é uma figura muito comum na poética simbolista. Sinestesia, literalmente, significa “mistura de sensações”; consiste numa relação subjetiva que apela a mais de um dos nossos sentidos, como: “Tem cheiro a luz, a manhã nasce... / Oh sonora audição colorida do aroma!” (Alphonsus de Guimaraens), em que o poeta apela à audição, à visão e ao olfato. Ou: “Corre por toda ela um suor de pedrarias, / um murmúrio de cores” (Eugenio de Castro), em que temos a fusão das sensações tátil, auditiva e visual.
Aponte, no poema, versos em que temos sinestesia.
5. Aliteração é uma figura que consiste na repetição de fonemas para sugerir um som. Difere da onomatopéia na medida em que esta imita o som; a aliteração é sugestão: “Toda gente homenageia Januária na janela / até o mar faz maré cheia para chegar mais perto dela.” (Chico Buarque).
Transcreva uma passagem caracterizada pela aliteração.
6. Quanto à forma:
a) Qual a métrica empregada por Cruz e Sousa? Escolha um verso e faça a escansão ) divisão das sílabas poéticas).
b) Qual o esquema de rima?
7. Tomando por base a última estrofe, destaque alguns dos temas recorrentes na obra de Cruz e Sousa

Extraído de:
NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume 2. São Paulo: Scipione, 2005.

Textos para análise - 3ª série do ensino médio

Texto para: Breno, Guido, Eric, João Graça, João Lima

O tempo e o vento
Érico Veríssimo

Viu a adaga lampejar nas mãos do outro. Um vento morno batia-lhe no rosto, entrava-lhe pelas narinas com um cheiro de água. No campo, vaga-lumes pingavam de fogo o corpo da noite.
— Pronto? — gritou Bento.
— Pronto!
E aproximaram-se um do outro, lentos, meio encurvados. Pararam quando a distância que os separava era pouco mais de cinco passos e ficaram a se mirar, negaceantes. Rodrigo ouvia a respiração arquejante do inimigo.
— Vou te mostrar o que acontece quando se bate na cara dum homem, patife — rosnou ele. E sentiu que a raiva o fazia feliz.
— Quem vai te mostrar sou eu, canalha.
E dizendo isto Bento avançou brandindo a adaga. Os ferros se encontraram no ar com violência e tiniram. No primeiro momento Rodrigo teve de recuar alguns passos. Mas logo firmou pé no chão e desviou todos os pranchaços do outro. Bento quis atingir-lhe a cabeça com o lado da adaga, mas o capitão aparou o golpe no ar com tal firmeza que a arma do adversário se lhe escapou da mão e caiu ao solo. Rápido, Rodrigo deu-lhe um pontapé e atirou-a longe, fora do alcance de Bento, que começou a recuar devagarinho, arquejando como um animal acuado.
— Pode pegar a adaga! — gritou-lhe Rodrigo.
— Não brigo com homem desarmado.
Bento correu, apanhou a arma e tornou a arremeter. Por alguns instantes os dois inimigos terçaram armas, disseram-se palavrões, enquanto suas camisas se empapavam de suor. Por fim se atracaram num corpo-a-corpo furioso, cabeça contra cabeça, peito contra peito. O braço direito de Rodrigo estava no ar, seguro à altura do pulso pela mão esquerda de Bento, cuja direita tentava aproximar a ponta da adaga do baixo-ventre do adversário.
— Vou te botar minha marca na cara, pústula!
— Vou te tirar as tripas pra fora, corno!
Empregando toda a sua força, que o ódio aumentava, o capitão conseguiu prender a mão direita do outro entre suas coxas; e depois, imobilizando com a sinistra o braço que Bento Amaral tinha livre, com a destra segurou a adaga e aproximou-lhe a ponta da cara do inimigo, que atirou a cabeça para trás, num pânico, e começou a bufar e a cuspir.
— Te prepara, porco! — gritou Rodrigo. — É agora.
E riscou-lhe verticalmente a face. O sangue brotou do talho. Bento gemia, sacudia a cabeça e houve um momento em que seu sangue respingou o rosto de Rodrigo e uma gota lhe entrou no olho direito, cegando-o por um breve segundo.
— Falta a volta do R!
E num golpe rápido fez uma pequena meia-lua, às cegas. Bento cuspiu-lhe no rosto, frenético, e num repelão safou-se e tombou de costas, deixando cair a adaga.
Rodrigo imaginou que ele ia levantar-se, apanhar de novo a arma e voltar ao ataque. Mas Bento, sentado no chão, com a mão no rosto, ficou a olhar atarantadamente para todos os lados. Os sapos continuavam a coaxar. Vaga-lumes passavam entre os dois inimigos. Uma ave noturna saiu de dentro do cemitério e sobrevoou a coxilha, num seco ruflar de asas.
— Não vou te matar, miserável — disse Rodrigo. — Mas não costumo deixar serviço incompleto. Quero terminar esse R. Falta só a perninha...
E caminhou para o adversário, devagarinho, antegozando a operação, e lamentando que não fosse noite de lua cheia para ele poder ver bem a cara odiosa de Bento Amaral.

1. A obra O tempo e o vento, é, provavelmente, a mais completa produção literária sobre a formação histórica, lingüística e cultural do Rio Grande do Sul. Identifique no texto a presença de elementos que comprovem a preocupação do autor em caracterizar seu Estado quanto a aspectos lingüísticos, culturais, geográficos.
2. Nas tradições gaúchas, em suas canções e histórias populares, são muito valorizadas a valentia e a coragem. Considerando esse dado e o motivo que gerou o duelo, comente:
a) O que significa o duelo para as personagens?
b) O que significa para o capitão Rodrigo fazer a letra R no rosto do adversário?

3. Para situações de luta como essa existe um código de honra que deve ser respeitado. Desse código faz parte, por exemplo, a exigência de que os adversários estejam em condições de igualdade.
a) Rodrigo é um homem mal visto na cidade, pois bebe em excesso, é mulherengo, valentão. Apesar disso, ele respeita o código de honra dos duelistas. Que gesto de Rodrigo comprava isso?
b) Na seqüência do episódio lido, a narrativa do duelo é interrompida; em seguida, Bento Amaral aparece no povoado, com o rosto ferido a bala. O que esse fato revela a respeito do procedimento de Bento Amaral?
c) Que importância esse fato tem na construção das personagens?

4. Observe a linguagem empregada no texto. Ela se caracteriza por ser culta formal, culta informal, popular ou regional? Justifique.


Extraído de:
CEREJA, William Roberto. Português: Linguagens: volume 3: ensino médio. 5 ed. São Paulo: Atual, 2005.

Textos para análise - 3ª série do ensino médio

Texto para: Ana Paula, Luana, Rafael, Edvaldo, Eudaldo, Diógenes, Hemerson

Tieta do Agreste
Jorge Amado

MINUCIOSA DESCRIÇÃO DO CONFUSO DESEMBARQUE DE TIETA, A FILHA PRÓDIGA, OU ANTONIETA ESTEVES CANTARELLI, A VIÚVA ALEGRE

Na primeira fila, a família, tristeza expressa nos olhares, nas lágrimas, nos trajes. Um passo à frente dos demais, o velho Zé Esteves, mascando fumo. Em seguida aos enlutados parentes, o reverendo, os meninos do catecismo, as pessoas gradas, dona Carmosina, buquê em punho, o colorido alegre das flores destoando do crepe e do choro – essa criatura para aparecer passa por cima dos sentimentos mais sagrados, indigna-se Perpétua, por baixo do véu preso ao coque, a lhe cobrir o rosto. Depois as beatas e o resto da população.
A marinete se aproxima, Jairo ao volante, poucos passageiros. Para Jairo dia magro, para Agreste dia gordo, dia de matar o carneiro pascoal, de foguetório e festa em honra da filha pródiga, não fosse ela viúva em nojo e dor. Cabem somente luto e lágrimas, cantoria de igreja.
As conversas cessam, Peto se alteia na ponta dos pés, assim a tia desembarque ele cairá fora, arrancará os sapatos. A marinete estanca num rumor cansado de juntas e molas. Peto conta os passageiros que descem: seu Cunha, um, o casal de roceiros, dois, três, dona Carmelita, quatro, a criada cinco, esse eu nunca vi, seis, nem esse sete, seu Agostinho da padaria, oito, a mulher dele, nove, a filha, dez, a tia Antonieta e a moça vão ser os últimos. Mesmo Jairo salta antes, carregado de maletas e de bolsas das esperadas viajantes. Com Jairo fazem onze, agora doze, é ela, por fim.
Será ela? Peto fica em dúvida. Não pode ser, a tia deve estar de luto, véu fúnebre tapando o rosto, igual à mãe, não pode ser de maneira alguma essa artista de cinema, Gina Lollobrigida. Na porta, sobre o degrau, majestosa, Antonieta Esteves – Antonieta Esteves Cantarelli, faça o favor, exige Perpétua. Deslumbrante. Alta, fornida de carnes, a longa cabeleira loura sobrando do turbante vermelho. Vermelho, sim, vermelho igual à blusa esporte, de malha, simples e elegante, marcando a firmeza dos seios volumosos dos quais se vê apreciável amostra através da gola de botões abertos. A calça Lee azul colada às coxas e à bunda, valorizando volumes e reentrâncias, que volumes! que reentrâncias! Os pés calçados com finos mocassins havana. O único detalhe escuro em todo o traje da viúva são os óculos esfumaçados, lentes e armação quadradas, o poder do chique, assinados por Christian Dior.
O espanto dura uma fracção mínima de tempo, um tempo imenso, uma eternidade.
Peto, vitorioso exclama:
- A tia não está de luto, Mãe. Posso tirar os sapatos e a gravata?
Antonieta, paralisada sobre o degrau, na porta do ônibus: diante dela a família de luto pela morte de Filipe, o inolvidável esposo, e ela em tecnicolor, em azul e vermelho, blusa aberta, esportivas calças Lee, ai, meu Deus, como não pensara em luto? Estudara cada pormenor e os discutira com Leonora, meticulosamente. Esquecera o mais importante. Mas já Zé Esteves cospe o pedaço de fumo e estende os braços para a filha pródiga:
- Minha filha! Pensei não ia mais te ver mas Deus quis me dar essa consolação antes da morte.
De cima do degrau da marinete, Antonieta reconhece o pai. O pai e o bordão. É o mesmo, o mesmíssimo cajado que cantou em suas costas naquela noite de fim do mundo. Um frouxo de riso sobe dentro dela, não consegue contê-lo, estremece, incontornável som a romper-lhe a boca, apenas tem tempo de encobrir o rosto com as mãos, antes de saltar. Acorrem todos a consolar a viúva em pranto, filha pródiga afogando os soluços nos braços do pai, comovente instante. Nem Perpétua se deu conta. Elisa chora e ri, de repente desafogada, a irmã sendo como a imaginara, sem tirar nem pôr. Única a estranhar o curioso som inicial, dona Carmosina aproxima-se com as flores tão de acordo com o traje de viagem de Tieta.
Enquanto Tieta vai de abraço em abraço, disputada pelas irmãs, pelo cunhado, pelos sobrinhos - tire os sapatos meu lindo, fique à vontade – presa aos beijos sem conta, às lágrimas de Elisa, na porta da marinete de Jairo aparece a mais formosa, a mais doce e sedutora donzela, esbelta juventude, uma sílfide como logo reconheceu e proclamou o vate De matos Barbosa.
Parada, a contemplar a emocionante cena, emocionada ela também. Encantadora no slaque delavê, boné da mesma fazenda rodeada de cabelos louros, acinzentados pela poeira, Peto reconhece a própria mocinha dos filmes de cauboi.
Um murmúrio de admiração percorre a rua, Tieta, desprendendo-se dos beijos de Elisa, apresenta:
- Leonora Cantarelli, minha enteada, minha filha, não tem diferença.
[...]
Após compreensível indecisão, o padre Mariano resolve, não vai perder, por uma questão de protocolo, o difícil trabalho de adaptação da letra de uma ladainha e de quinze dias de ensaio.
Faz um sinal, os meninos do catecismo cantam:
Vestida de negro
Ela apareceu
Trazendo nos olhos
As cores de luto
Ave! Ave!
Ave Antonieta!
[...]
Ei-la em Santana do Agreste, em meio à família em luto, a ouvir os meninos do catecismo: obrigado, padre, de todo o coração. Do mar, chega a brisa da tarde, vem saudá-la. Com a ajuda de Sabino, Jairo desembarca as malas, a bagagem viaja no teto da marinete, coberta com lona grossa como se alguma cobertura adiantasse contra a poeira do caminho.
- Vamos, minha filha – convida Zé Esteves oferendo o braço, apoiando-se no bastão.
- Para minha casa – tenta comandar Perpétua em meio aos destroços da violada compunção.
Cabe-lhe a culpa, a mais ninguém. Com pudera imaginar Tieta vestindo luto por marido? Fizera da irmã sua igual, como se dinheiro, alta sociedade, casamento com paulista rico e comendador do Papa pudessem consertar quem nasceu torta, rebelde a códigos, leis e respeito humano, sem régua nem compasso.

1. Seguindo a tradição da literatura oral nordestina, o texto é apresentado pelo narrador. A apresentação, em negrito, é feita de modo imparcial ou deixa transparecer opiniões do narrador? Justifique.

2. Sant’Ana do Agreste é uma cidade pequena, de hábitos provincianos. Quando deixou a cidade, Tieta era apenas uma moça simples e namoradeira.

a) Que fato ligado à chegada de Tieta demonstra o provincianismo da cidade?
b) Levante hipóteses: Se Tieta era uma pessoa comum antes de partir da cidade, por qual razão ela tem uma recepção tão especial na sua volta?

3. Por influência de Perpétua, todos da família esperam Tieta em luto pesado. Até o padre, com uma ladainha adaptada, prepara uma homenagem para a viúva em nojo e dor. Entretanto, Tieta não aparece em trajes de luto.
a) De acordo com o texto, porque isso ocorreu?
b) Como as pessoas reagem a esse fato? Justifique com um exemplo.
c) Que significado tem esse fato para Perpétua, considerando-se o juízo que vinha fazendo da irmã distante?

4. Releia estes dois fragmentos:

“Um frouxo de riso sobe dentro dela, não consegue contê-lo, estremece, incontornável som a romper-lhe a boca, apenas tem tempo de encobrir o rosto com as mãos, antes de saltar.”

“Será ela? Peto fica em dúvida. Não pode ser, a tia deve estar de luto, véu fúnebre tapando o rosto, igual à mãe, não pode ser de maneira alguma essa artista de cinema, Gina Lollobrigida. Na porta, sobre o degrau, majestosa, Antonieta Esteves – Antonieta Esteves Cantarelli, faça o favor, exige Perpétua.”

a) Pelo primeiro fragmento, o que se depreende da personalidade de Tieta?
b) De acordo com o segundo fragmento, Perpétua insiste em acrescentar ao nome da irmã o sobrenome do falecido: Cantarelli. O que esse fato possibilita depreender a respeito da personalidade dessa personagem?

5. Como se caracteriza a linguagem empregada no texto?


Extraído de:
CEREJA, William Roberto. Português: Linguagens: volume 3: ensino médio. 5 ed. São Paulo: Atual, 2005.

Textos para análise - 3ª série do ensino médio

Texto para: Virna, Airton, Ruty, Álvaro, Lorena, Elaine

A bagaceira
(José Américo de Almeida)
Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos – esqueletos redivivos, com o aspecto terroso e o fedor das covas podres.
Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas.
Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam. Expulsos de seu paraíso por espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrastão dos maus fados.
Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forçado nomandismo.
Adelgaçados na magreira cômica, cresciam, como se o vento os levantasse. E os braços afinados desciam-lhes aos joelhos, de mãos abanando.
Vinham escoteiros. Menos os hidrópicos – de ascite consecutiva à alimentação tóxica – com os fardos das barrigas alarmantes.
Não tinha sexo, nem idade, nem condição nenhuma.
Eram os retirantes. Nada mais.
Meninotas, com as pregas da súbita velhice, careteavam, torcendo as carinhas decrépitas de exvoto. Os vaqueiros másculos, como titãs alquebrados, em petição de miséria. Pequenos fazendeiros, no arremesso igualitário, baralhavam-se nesse anônimo aniquilamento.
Mais mortos do que vivos. Vimos, vivíssimos só no olhar. Pupilas do sol da seca. Uns olhos espasmódicos de pânico, como se estivessem assombrados de si próprios. Agônica concentração de vitalidade faiscante.
Fariscavam o cheiro enjoativo do melado que lhes exarcebava os estômagos jejuns. E, em vez de comerem, eram comidos pela própria fome numa autofagia erosiva.

Último pau-de-arara
Venâncio, Corumbá & J.Guimarães

A vida aqui só é ruim
Quando não chove no chão
Mas se chover da de tudo
Fartura tem de montão

Tomara que chova logo
Tomara meu Deus, tomara
Só deixo o meu Cariri
No último pau-de-arara

Enquanto a minha vaquinha
Tiver a pele e o osso
E puder com o chocalho
Pendurado no pescoço

Eu vou ficando por aqui
Que Deus do céu me ajude
Quem sai da terra natal
Em outros cantos não para

Só deixo o meu Cariri
No último pau-de-arara ...

1. Destaque a frase do texto que melhor caracteriza a condição dos retirantes.

2. Explique a aparente contradição da frase “Fugiam do sol e o sol guiava-os”.

3. Transcreva uma passagem em que José Américo de Almeida aborda o problema da velhice precoce.

4. Comente a linguagem usada por José Américo de Almeida. Você diria que ela se enquadra perfeitamente nos padrões do Modernismo?

5. Compare o texto de A bagaceira com a letra de “O último pau-de-arara”, destacando os pontos em comum.


Extraído de:
NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume 3. São Paulo: Scipione, 2005.

Textos para análise - 3ª série do ensino médio

Texto para: Rafaela, Elen, Camila, Izis, Fagner
3 poemas de Cecília Meireles:

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou se desfaço,
- Não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?



Reinvenção

A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.

1. Destaque versos dos poemas que comprovem uma característica marcante da obra de Cecília Meireles: a fugacidade do tempo.

2. Cecília Meireles trabalha muito bem o ritmo de seus poemas. Destaque os versos que determinam o ritmo do poema “Retrato”.


3. Ainda em relação ao poema “Retrato”, como é trabalhada a adjetivação? Destaque dois adjetivos e comente-os.

4. Em “Motivo”, Cecília Meireles aborda uma temática – de caráter metalingüístico – comum aos poetas do Modernismo. Que temática é essa?


5. O compositor Claude Debussy afirmou certa vez: “A arte é a mais bela das mentiras”.
O pintor Pablo Picasso afirmava: “A arte é uma mentira que revela a verdade”.
O poeta Ferreira Gullar comentou: “Uma das coisas que a arte é, parece, é uma transformação simbólica do mundo”.
A partir dessas afirmações, comente a poesia “Reinvenção”.

Extraído de:
NICOLA, José de. Português: ensino médio, volume 3. São Paulo: Scipione, 2005.

Quem sou eu

Minha foto
Formada no curso técnico de Auxiliar de Escritório no ano de 1996, no Centro Educacional Deocleciano Barbosa de Castro, graduada no curso de Licenciatura em Letras com habilitação para o ensino de Língua Inglesa, Língua Portuguesa e suas Literaturas, na Universidade do Estado da Bahia - UNEB/Campus IV no ano de 2004, pós graduanda em Metodologias de Ensino da Língua Portuguesa, pela Universidade Gama Filho. Trabalho como professora há 10 anos, tendo iniciado minha carreira na Prefeitura Municipal de Quixabeira, como professora de Inglês no Ensino Fundamental. Nos anos de 2005 e 2006 trabalhei como professora substituta na Escola Agrotécnica Federal de Senhor do Bonfim, com a disciplina Inglês para o Ensino Médio. Em 2007, tendo sido aprovada no concurso para professores do Estado da Bahia, assumi a cadeira de professora de Língua Inglesa no Colégio Estadual Roberto Santos, onde hoje atuo também como vice-diretora. Assumi a disciplina Literatura no Colégio Presbiteriano Augusto Galvão, em fevereiro de 2009, e pretendo abrir as janelas desta incrível arte a todos que por ela se interessem.